terça-feira, 15 de novembro de 2011

Entrevista: Marisa Narciso Sampaio e Lígia Silva Leite

O livro Alfabetização Tecnológica do Professor, de Marisa Narciso Sampaio e Lígia Silva Leite, tem como objetivo principal discutir a tecnologia como ferramenta de trabalho do professor. As autoras partem do princípio de que a educação e a informação são condições para a democracia, portanto, é necessário que os professores entendam, interpretem e dominem a linguagem tecnológica de forma crítica, ativa e participativa. Assim, vão promover transformações na organização da sociedade. As autoras defendem também a importância de se desmistificar o uso da tecnologia para que todos tenham acesso a técnicas inovadoras sem deixar que isso se torne mais um fator de desigualdade social.
As autoras concederam uma entrevista ao site Conect@, onde falam a respeito do livro, das tecnologias educacionais, EaD no Brasil, etc. Confira abaixo uma parte da entrevista:

Conect@ - Quais tecnologias da informação e comunicação podem ser incorporadas à educação? De que forma e que contribuições elas podem trazer?
Marisa - Todas as tecnologias que estão no mundo devem estar na escola. As possibilidades de utilizá-las são múltiplas, infinitas mesmo. O professor, como mediador entre o aluno e o conhecimento, é que deverá definir as formas de utilização, explorando o potencial de cada tecnologia em função de seu contexto, dos seus objetivos e da realidade e dos interesses de seus alunos. As contribuições que as tecnologias trarão ao processo pedagógico acontecerão na medida da criatividade do professor e do domínio que ele tiver do fazer pedagógico.
Ligia - Praticamente todas elas, desde que primeiro atendam aos objetivos de ensino da atividade proposta e, que também o professor se sinta confortável com a presença desta tecnologia, ou seja, esteja “alfabetizado” para o seu uso. Quando não usávamos tecnologias eletrônicas como as de hoje, este aspecto era menos evidente. Hoje o professor precisa dominar muito bem o uso do computador, por exemplo, dos seus programas. Se a presença dessa tecnologia implicar seu uso pelo aluno, ele também deve estar “alfabetizado” em relação a ela. [...] Enfim, a tecnologia precisa ser transparente no processo educativo, daí a necessidade de alfabetização tecnológica do professor e do aluno. Elas devem ser utilizadas de acordo com as suas próprias características, respeitando-as, ou seja, o uso da TV interativa, por exemplo, implica aspectos diferentes de utilização do rádio ou do computador.

Conect@ - Por que o professor deve ser tecnologicamente alfabetizado e o que isso significa?
Marisa - Penso que o professor deve apropriar-se deste conhecimento porque os objetivos da educação estão relacionados com democratização e não com exclusão; com solidariedade e não com preconceito e exploração; com respeito à diversidade e não com homogeneização. A lógica neoliberal do mercado, que é intrinsecamente excludente, e já dominou a tecnologia, a usa para atingir seu objetivo de continuar dominando e mantendo os níveis de lucro e diferenças sociais que temos hoje. A escola, especialmente a pública, tem o papel de garantir que a cultura, a ciência e a técnica não sejam propriedade exclusiva das classes dominantes. O papel da escola é desmistificar a linguagem tecnológica e iniciar seus alunos no domínio do manuseio, interpretação, criação e recriação dessa linguagem, democratizando-a.

Conect@ - O professor ainda é resistente a essa alfabetização?
Ligia - Sim. Muitos sim e alguns sempre resistirão. Porque é preciso compreender que a tecnologia não vai resolver nenhum problema educativo. Ela é apenas uma ferramenta que não é adequada a todos os objetivos de ensino, nem a todo tipo de professor, nem a todos os estilos de aprendizagem e que ela inspira medo e insegurança, quando desconhecida.

Conect@ - E de quem é a responsabilidade por essa alfabetização?
Marisa - De todos. Dos governos e das escolas, para dar condições e oportunidade de acesso e aprendizagem. Os professores como profissionais interessados em seu crescimento, aprimoramento, e comprometidos com a boa qualidade da educação oferecida aos seus alunos.

Conect@ - E dentro da educação, quem deve ser alfabetizado? Apenas o professor?
Marisa - A alfabetização tecnológica não pode ser exclusividade do professor. Deve atingir outros profissionais da educação continuada e alunos também. Na sociedade tecnológica é uma questão de cidadania ter acesso ao domínio e à utilização competente destas máquinas que são fruto da produção da humanidade.

Conect@ - Que contribuições a Internet pode trazer a essa educação continuada?
Marisa - A Internet é uma ótima fonte de informação, pesquisa e permite a interação. Para que seja aproveitada em todo o seu potencial é necessário haver orientação para o seu uso com objetivos pedagógicos. Ao mesmo tempo em que se pode encontrar informação - e até discussão - sobre quase tudo, é possível também perder muito tempo e se deparar com muita inutilidade se a pesquisa não for direcionada e se não houver orientação para essa utilização.
Ligia - É isso mesmo Marisa. Nos cursos de alfabetização tecnológica do professor há uma grande preocupação com esse aspecto de “information literacy”, pois de nada adianta ter a Internet à disposição se não soubermos buscar, identificar e selecionar a informação que pode nos ser útil. Gostaria de acrescentar também que um dos grandes potenciais pedagógicos da Internet é o fato de ela possibilitar a interação/troca de muitos para muitos, ou seja, tornar possível a aprendizagem colaborativa. Estratégia de ensino que tem chamado muito a nossa atenção e tem sido alvo de muitos estudos. Enfim, cabe a nós educadores, descobrir o potencial pedagógico da Internet para podermos explorá-lo ou recusá-lo.

Você pode ler a entrevista completa das autoras clicando aqui.
É perceptível que a Alfabetização Tecnológica - uma ferramenta para o trabalho e a comunicação, além de ser um aperfeiçoamento constante (processo contínuo) - é um meio de superação de preconceito em relação às diferentes modos de expressão, formação de uma concepção própria de mundo através da interação com a informação e o conhecimento, aumento do limite e possibilidades na vida, e construção do homem-sujeito, ativo e criador da cultura. O Processo de Alfabetização altera o perfil social do homem, transformando-o em um ser político e participativo que influencia a sociedade e interage com ela.

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