O livro
Alfabetização Tecnológica do Professor, de Marisa Narciso Sampaio e Lígia Silva
Leite, tem como objetivo principal discutir a tecnologia como ferramenta de
trabalho do professor. As autoras partem do princípio de que a educação e a
informação são condições para a democracia, portanto, é necessário que os
professores entendam, interpretem e dominem a linguagem tecnológica de forma
crítica, ativa e participativa. Assim, vão promover transformações na
organização da sociedade. As autoras defendem também a importância de se
desmistificar o uso da tecnologia para que todos tenham acesso a técnicas
inovadoras sem deixar que isso se torne mais um fator de desigualdade social.
As autoras
concederam uma entrevista ao site Conect@, onde falam a respeito do livro, das
tecnologias educacionais, EaD no Brasil, etc. Confira abaixo uma parte da
entrevista:
Conect@
- Quais tecnologias da informação e comunicação podem ser incorporadas à
educação? De que forma e que contribuições elas podem trazer?
Marisa - Todas as
tecnologias que estão no mundo devem estar na escola. As possibilidades de
utilizá-las são múltiplas, infinitas mesmo. O professor, como mediador entre o
aluno e o conhecimento, é que deverá definir as formas de utilização,
explorando o potencial de cada tecnologia em função de seu contexto, dos seus
objetivos e da realidade e dos interesses de seus alunos. As contribuições que
as tecnologias trarão ao processo pedagógico acontecerão na medida da
criatividade do professor e do domínio que ele tiver do fazer pedagógico.
Ligia - Praticamente
todas elas, desde que primeiro atendam aos objetivos de ensino da atividade
proposta e, que também o professor se sinta confortável com a presença desta
tecnologia, ou seja, esteja “alfabetizado” para o seu uso. Quando não usávamos
tecnologias eletrônicas como as de hoje, este aspecto era menos evidente. Hoje
o professor precisa dominar muito bem o uso do computador, por exemplo, dos
seus programas. Se a presença dessa tecnologia implicar seu uso pelo aluno, ele
também deve estar “alfabetizado” em relação a ela. [...] Enfim, a tecnologia
precisa ser transparente no processo educativo, daí a necessidade de
alfabetização tecnológica do professor e do aluno. Elas devem ser utilizadas de
acordo com as suas próprias características, respeitando-as, ou seja, o uso da
TV interativa, por exemplo, implica aspectos diferentes de utilização do rádio
ou do computador.
Conect@
- Por que o professor deve ser tecnologicamente alfabetizado e o que isso
significa?
Marisa - Penso que o
professor deve apropriar-se deste conhecimento porque os objetivos da educação
estão relacionados com democratização e não com exclusão; com solidariedade e
não com preconceito e exploração; com respeito à diversidade e não com
homogeneização. A lógica neoliberal do mercado, que é intrinsecamente
excludente, e já dominou a tecnologia, a usa para atingir seu objetivo de
continuar dominando e mantendo os níveis de lucro e diferenças sociais que
temos hoje. A escola, especialmente a pública, tem o papel de garantir que a
cultura, a ciência e a técnica não sejam propriedade exclusiva das classes
dominantes. O papel da escola é desmistificar a linguagem tecnológica e iniciar
seus alunos no domínio do manuseio, interpretação, criação e recriação dessa
linguagem, democratizando-a.
Conect@
- O professor ainda é resistente a essa alfabetização?
Ligia - Sim. Muitos
sim e alguns sempre resistirão. Porque é preciso compreender que a tecnologia
não vai resolver nenhum problema educativo. Ela é apenas uma ferramenta que não
é adequada a todos os objetivos de ensino, nem a todo tipo de professor, nem a
todos os estilos de aprendizagem e que ela inspira medo e insegurança, quando
desconhecida.
Conect@
- E de quem é a responsabilidade por essa alfabetização?
Marisa - De todos. Dos
governos e das escolas, para dar condições e oportunidade de acesso e
aprendizagem. Os professores como profissionais interessados em seu
crescimento, aprimoramento, e comprometidos com a boa qualidade da educação
oferecida aos seus alunos.
Conect@
- E dentro da educação, quem deve ser alfabetizado? Apenas o professor?
Marisa - A
alfabetização tecnológica não pode ser exclusividade do professor. Deve atingir
outros profissionais da educação continuada e alunos também. Na sociedade
tecnológica é uma questão de cidadania ter acesso ao domínio e à utilização
competente destas máquinas que são fruto da produção da humanidade.
Conect@
- Que contribuições a Internet pode trazer a essa educação continuada?
Marisa - A Internet é
uma ótima fonte de informação, pesquisa e permite a interação. Para que seja
aproveitada em todo o seu potencial é necessário haver orientação para o seu
uso com objetivos pedagógicos. Ao mesmo tempo em que se pode encontrar
informação - e até discussão - sobre quase tudo, é possível também perder muito
tempo e se deparar com muita inutilidade se a pesquisa não for direcionada e se
não houver orientação para essa utilização.
Ligia - É isso mesmo
Marisa. Nos cursos de alfabetização tecnológica do professor há uma grande
preocupação com esse aspecto de “information literacy”, pois de nada adianta
ter a Internet à disposição se não soubermos buscar, identificar e selecionar a
informação que pode nos ser útil. Gostaria de acrescentar também que um dos
grandes potenciais pedagógicos da Internet é o fato de ela possibilitar a
interação/troca de muitos para muitos, ou seja, tornar possível a aprendizagem
colaborativa. Estratégia de ensino que tem chamado muito a nossa atenção e tem
sido alvo de muitos estudos. Enfim, cabe a nós educadores, descobrir o
potencial pedagógico da Internet para podermos explorá-lo ou recusá-lo.
Você pode ler a
entrevista completa das autoras clicando aqui.
É perceptível que
a Alfabetização Tecnológica - uma ferramenta para o trabalho e a comunicação,
além de ser um aperfeiçoamento constante (processo contínuo) - é um meio de
superação de preconceito em relação às diferentes modos de expressão, formação
de uma concepção própria de mundo através da interação com a informação e o
conhecimento, aumento do limite e possibilidades na vida, e construção do
homem-sujeito, ativo e criador da cultura. O Processo de Alfabetização altera o
perfil social do homem, transformando-o em um ser político e participativo que
influencia a sociedade e interage com ela.
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